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Até março de 2009, sempre que uma criança nascia na maternidade de Santa Casa com problemas pulmonares ou infecções, o pediatra Luiz Antônio Neves de Resende vivia um calvário emocional. “Ninguém sabe o quanto era difícil se aproximar de uma mãe, dizer para ela que o filhinho corria riscos, que conhecíamos exatamente todos os procedimentos para salvá-lo, mas não tínhamos condições de fazê-lo. Era uma dor na alma que a gente aliviava com oração, mas que só se curava quando surgia uma vaga em Belo Horizonte ou Juiz de Fora para encaminhar o bebê a uma UTI Neonatal”, conta.
Hoje a realidade é outra em São João del-Rei. Se antes recém-nascidos em estado crítico precisavam percorrer pelo menos 160km para terem acesso a uma Unidade de Tratamento Intensivo, atualmente a intervenção ocorre de forma imediata. “Gastamos menos de dois minutos da sala de parto à UTI para os bebês”, comemora Resende.
O espaço, aliás, já é referência no estado, contando com dez leitos equipados com respiradores e monitores, ecocardiograma rápido e ultrassonografia. Tudo operacionalizado por equipe de dez pediatras e enfermeiros. Foi com essa estrutura que em 2010 uma criança pesando apenas 480 gramas veio ao mundo na Santa Casa. “Sempre há o baque. Nenhum médico se acostuma com isso. Mas naquele dia respirei fundo e agradeci a Deus por termos a UTI aqui”, lembra o pediatra que até hoje recebe notícias da menina que superou a dificuldade no nascimento e já se preparar para frequentar uma escolinha em Lavras. “O socorro foi rápido, o tratamento foi perfeito. Essa história é uma entre tantas outras que tiveram finais felizes”, completa Resende, que idealizou a UTI ao longo de décadas até vê-la construída na Santa Casa em que nasceu há quase 70 anos.
Realidade
Resende conta com detalhes as várias manhãs que passou brincando no pátio da Santa Casa da Misericórdia, em São João del-Rei. Além disso, traça detalhadamente a árvore genealógica de uma família dedicada à instituição. “Meu avô, Francisco de Paula Neves, sempre integrou as mesas administrativas. Um primo, Fausto Neves, foi cirurgião aqui. E meu pai, Celso José de Rezende, foi farmacêutico na casa”, diz.
Não bastasse isso, o pediatra guarda na memória flashes de uma cirurgia a que se submeteu aos 7 aninhos. “Tudo me ligou à Santa Casa e me trouxe de volta quando me formei”, conta ele, casado com a cardiologista Maria Iracema Ucho Resende e pai de dois filhos que também atuam na instituição de saúde: a Dra. Luiza Uchôa de Resende,reumatologista; e o Dr. Thiago Uchôa de Resende, cardiologista.
De Brasília, onde fez parte da equipe que montou a UTI Infantil do Hospital Base, Resende trouxe na bagagem a experiência e a vontade latente de transformar a Pediatria em São João. O sonho o tornou um grande engajado na reestruturação da Clínica Infantil Sinhá Neves, ao lado do Dr.Euclides Cunha. “Mas faltava a UTI. Insistimos muito nisso”, relata.
E foi através da persistência que em 2009 a Santa Casa foi incluída no programa estadual Viva Vida, garantindo equipamentos, estrutura e treinamento profissional para a equipe que hoje atua no Tratamento Intensivo Neonatal. O trunfo foi ainda maior com a criação de um Posto de Coleta de Leite Materno, em 2013.