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É começo de tarde de uma típica quinta-feira. Silêncio na Santa Casa. De repente, um dedilhar tranquilo de violão começa a ecoar na escada. Os pacientes, nos leitos, olham imediatamente para o corredor. Muitos, inclusive, sorriem.
Pouco depois, sanfonas, pandeiros, meias-luas, cabacinhas e chique-chiques se juntam à melodia e a música toma conta da instituição. A cena se repete toda semana, há mais de 10 anos, protagonizada pelos voluntários do Quem Canta Seus Males Espanta.
Nome mais do que perfeito para o grupo formado por 13 pessoas que fazem de obras do cancioneiro popular um milagroso e verdadeiro remedinho não só para quem recebe cuidados e atendimentos médicos na Santa Casa, mas para os próprios colaboradores. Todos visitados setor a setor para também ganharem uma palhinha do trabalho idealizado pela enfermeira-supervisora Teresa Ludgero; e coordenado atualmente pela colaboradora aposentada Solange Santos.
Não há, aliás, por que estranhar a maestria com que ela transita pelos pavilhões. “Trabalhei nestas enfermarias por 30 anos. Este foi e continua sendo meu segundo lar”, explica. E foi exatamente em um dia de expediente, prestes a se aposentar no ano de 2007, que recebeu o convite para integrar a equipe de voluntários que já cantarolavam semanalmente em todas as salas e quartos da instituição.
O que ela achou da proposta? “Sem dúvidas algo maravilhoso”, frisa. Por todas as vivências nas três décadas de profissão, Solange sabia bem a importância de injeções constantes de amor e solidariedade como parte essencial de qualquer tratamento.
No mesmo sempre acreditou Teresa, que apostou na ideia numa época em que trabalhos humanizados ainda eram vistos com desconfiança nas instituições de saúde. “É muito difícil quebrar paradigmas. E havia o receio de que a música em um ambiente hospitalar pudesse incomodar as pessoas ou ser visto como algo de mau gosto. Felizmente, o tempo nos provou um grande oposto. Mas não foi fácil”, lembra a enfermeira.
Para ela, aliás, todo o processo é ainda hoje visto como uma gestação e um parto. “Fecundamos a idéia, vimos se formar aos pouquinhos e depois de muito cuidado ela veio à luz. Foi crescendo, engatinhando, caminhando e agora segue os próprios rumos. Assisto a tudo orgulhosa e com esperança de que continue fazendo o bem a tantas pessoas”, confessa Teresa.
E com motivos de sobra para isso. Inspirado nas atividades de um grupo tiradentino que atuava em instituições de São João del-Rei, o Quem Canta Seus Males Espanta começou com visitas mensais à Santa Casa. Aos poucos – e com voluntários aderindo à iniciativa – a equipe passou a visitá-la uma vez a cada 15 dias antes de, por fim, encantar pacientes e colaboradores toda semana.
Um sinal de que esforços humanitários valem a pena. “Música traz boas lembranças, distrai, acalma. E, junto com cada nota, a gente leva um sorriso, um ‘força, vai ficar tudo bem’. Somos todos humanos não só de carne e osso, mas também de sentimentos. Eles também fazem parte de nós e devem ser compartilhados sempre”, defende a simpática Solange, atual coordenadora do coral. Além disso, ela ensina tudo o que sabe no violão, também voluntariamente, em um projeto no Bairro Matosinhos.
“Quem sabe dali não vai sair a pessoa que dará continuidade ao nosso trabalho, não é?”, diz ela.